parei de pensar e comecei a sentir.

sábado, agosto 30 6:28 AM postado por debs
Ontem eu a vi. Paramos uns cinco minutos para conversar. Ela me contou como andam as coisas. (péssimas). Em cinco minutos ela tentou me falar de seus problemas, por que eu perguntei. Apesar de saber que foi só aquela pergunta que todos fazem por educação, escutei-a pois senti que ela precisava desabafar.
Seu cabelo parecia ter mais vida, seus olhos ao contrário, pareciam ter perdido o brilho. Sua expressão facil deixava mais do que claro seu cansaço em relação ao dia-a-dia.
Problemas todo mundo tem. Eles vêm e vão. São como uma maré. Mas, pelo que eu soube e notei, a garota estava enfrentando era uma tempestade. Quando tudo que pode acontecer de ruim acontece e de uma vez só.
Ela estava exausta. Exausta de ser a ovelha negra da família, exausta de ver todo mundo na sala chorando e tentando ajudá-la, exausta de se deixar ser ajudada mas ver todos fazerem tudo do jeito errado. Exausta de ter vergonha de tudo que já fez. Exausta de ser sempre a outra. Exausta de ser o brinquedinho dele, de não ter o seu valor. De NUNCA estar em primeiro lugar. Exausta de se importar. Exausta de saber que todos os seus segredos vieram á tona. Exausta de sentir a diferença que eles causaram nas pessoas. Exausta de saber que isso está lhe rendendo muitos dias em casa, muita 'perseguição', muita falta de liberdade e privacidade. Exausta de querer fugir e não ter para onde ir. De não ter para quem ir. Exausta de querer um tempo e só ver as pessoas tirando isso dela. Abafando. Sufocando. Exausta de querer ajuda mas ter medo de como ela poderia vir.
Ontem, em nosso rápido encontro, ela me falou que havia ido ao psiquiatra, que acabara de voltar de lá, apontou a mãe que estava um pouco distante resolvendo uns problemas pelo telefone, e disse que era sua companhia. Que agora sempre era assim. Sempre tinha alguém com ela. Só faltava agora usar coleira. Sempre alguém ia buscá-la no colégio, ou iam aos lugares que ela, agora raramente, frequentava, para conhecer os seus amigos e ter a certeza de que ela estava lá. Pareciam fantasmas. Que acessavam seu orkut, liam seus textos e bisbilhotavam até suas mensagens do celular. Que pegaram o número telefônico de todos os seus colegas para caso fosse necessário estabelecer contato.
Não podia mais sair, nem escrever, nem ficar em paz.
O seu tempo parecia estar reservado para dedicar-se à família.
Reuniões familiares, filmes, novelas, jantares... e tudo mais. Sempre com a família.
Ela só queria fugir.
No psiquiatra não se sentira muito bem. Contou-me que a mulher fora estranha com ela. Ao entrar na sala de espera já pagara o maior mico quando quis beber água e não soube mexer no 'filtro', esse não parou de derramar o líquido e molhou o chão espalhadamente. Depois de esperar uns minutos, chegou sua vez de conhecer a doutora. Antes de mexer na maçaneta parou uns dois segundos para respirar fundo, entrou. Notou que a sala era muito decorada. Em todos os lados viam-se imagens da Santa Maria, eculturas, jarros, quadros, bibelôs. A mulher usava muito ouro. Brinco, colar, pulseira, relógio de pulso e un anel-relógio. Vestia-se de vermelho e o seu batom exagerado combinava com a roupa. Atrás de onde se sentava, havia um objeto aparentemente de prata, com um saleiro e um açucareiro, e muitos livros sobre psicanálise em cima, na estante. O nome dela era 'alguma coisa Maria'. Pois é, mas talvez ela fosse cega, por que quando a menina entrou na sala ela nada falou, e continuou assim por um tempo. Só olhando uns papéis e tudo mais. Enfim, perguntou como ela ia e se estava tudo bem. Claro que não estava, mas como iria falar isso pra uma pessoa que mal conhece e assim, sem 'clima' nenhum? Conversaram por uns 10 minutos, até a doutora pedir para que a mãe da garota entrasse. E quando ela entrou, depois de trocarem algumas palavras a respeito da menina, 'Maria não sei o que' disse que iria encaminhá-la para 10 encontros com um psicólogo, afirmou que era melhor, pois achava que o que ela queria er asó conversar. Errada ou certa? Nem a menina sabia dizer. Foi embora com as mãos nos bolsos de trás do jeans. Aliviada.
Caminhou um pouco com a mãe pelo centro, achou uma mochila legal mas a mãe não comprou por que havia esquecido o cartão em casa, e só ia comprar por que a garota estava precisando urgentemente de uma bolsa nova. A mãe não costumava fazer muito os gostos da menina, não por que não podia, só por não querer tabém. Tomaram um sorvete e foi cada uma para um lado. A menina para o shopping, a mãe para casa. Ao entrar no ônibus seu pai liga perguntando quem a autorizou a ir pro shopping. Ela respondeu que foi sua mãe e que isso não tem nada de mais. E pouco tempo depois encontra sua irmã, em frente de uma loja. Coincidência? --'
Teve que apresentar todos os amigos, e tal, para poder ir andar em paz.
A meinina quase que chora, mas parecia não ter mais sentimentos. Só me contou que estava cansada daquilo tudo, que queria um tempo pra esfriar a cabeça,um tempo pra pensar, um tempo pra ela, um tempo sozinha. Um tempo pra esquecer o garoto por quem era apaixonada que não lhe dava tanta importância assim, que sempre a tratava como segunda opção, só como diversão, essas coisas. Um tempo pra deixar de lado os problemas, a família e o colégio. As obrigações. Pras esquecer seus vícios, aliás, essa palavra aqui talvez renda muita discussão, esquecer seus costumes, digamos assim. Esquecer que existe, que está viva.
Isso tudo ela me contou em cinco minutos. Algumas coisas ela falou, algumas eu vi, algumas eu senti, outra eu interpretei. Depois de um abraço rápido que nos demos, algo não tão recíproco, ela se afastou com as mãos ainda nos bolsos de trás do jeans.

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