Mais uma vez.

Às vezes eu só queria um lugar afastado... distante... vazio. Para poder me sentar, esticar as pernas e chorar um pouco olhando pro nada embaçado pelas lágrimas. Por que às vezes eu me canso de fingir. De representar um papel, um personagem. De forçar minha tristeza para dentro, prendê-la em mim, limitando-a apenas a chegar aos meus olhos de vidro. Chocados, infelizes.
Apesar de sempre ter mantido em mim um medo inocente, de não ter para onde voltar depois de sair, tudo que eu queria era ir embora. Ir sem olhar pra trás. Ir sem sequer pensar na possibilidade de voltar. Ir e não lembrar que alguém talvez me queira de volta. Disseram-me que só temos o direito de pecar enquanto estamos vivos. E eu já vivi demais aqui. Disseram-me que o perdão só pode vir antes de que morramos, e eu já lhes dei tempo demais para um perdão qualquer. Que não foi desejado. Agora? Tarde demais. O sentimento já tomou conta de mim. Estou convencida do que tenho que fazer. E se não posso ir literalmente embora, vai a minha alma para longe de vocês. Vai o meu amor, deixando-vos aqui, sozinhos. Eu nunca tive o reconhecimento de vocês de duas coisas: 1- de que meu coração é de carne e dói ouvir tudo isso. De um jeito que não da para apagar depois. 2- de que isso não entra por um ouvido e sair por outro. Vocês têm sentimentos. Eu também. O ideal seria respeitarmos os outros. Mas não vejo essa prática em nosso dia-a-dia.
E dia a dia as coisas pioram. Vejo-me mais estátua em relação a vocês.
O que mais me entristece é ter essa imaginação rica. É criar em um teatro imaginário uma história totalmente diferente da que existe. É sonhar com tudo de um modo diferente, e saber que eu poderia, ainda, ser a menina feliz que um dia brincou no brilho do meu olhar. Eu virei uma pessoa fria e digo com toda sinceridade que a culpa foi de vocês.
E vocês podem pensar o meu pensamento: é fácil colocar a culpa em alguém, mas foi o que fizeram comigo durante toda minha curta vida. Sem a preocupação de que eu pudesse sentir ou notar.
E eu cuspo agora no prato em que comi. Com uma única vontade na cabeça: Ir pelo menos embora em pensamentos, voando na minha imaginação, em um lugar qualquer, afastado, distante, vazio. Com as pernas esticadas e o olhar no nada, embaçado pelas lágrimas.

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