Raul queria mais emoção, mais energia, mais vida. Raul queria sair daquela cama nem que fosse só para desligar a televisão nela própria e excluir o uso remoto do controle remoto. Mas a febre que vinha todos os dia às 5hda tarde não deixava. Ok, era uma doença fugaz, efêmera, mas o impedia de ver e de resolver seu maior problema: Sofie. Não, problema não era a palavra ideal. Complicação, talvez.
Aquela mistura de sentimentos dentro dele não era nada sublime, ou seja, tão sublime quanto proposital. Quanto bem-vinda. pensando nisso,dormio.
Logo mais à noite Raul acordou muito suado. Não poderia mais aguentar. Teria que fazer alguma coisa para dar fim àquela inquietação dentro do peito. E para voltar a respirar. Precisava agir ou não conseguiria mais olhar-se no espelho e ver o bom e velho Raul. Sempre veria o outro alguém, sem coração, que teimava em usá-lo como hospedeiro, desde quando desapontou tão fortemente aquela garota, cujos olhos não lhe saiam da memória, o que fazia companhia àquela sensação mórbida de solidão.
Amassou qualquer dinheiro no jeans escuro, calçou qualquer all star sujo e deixou o cabelo como sempre gostava, despenteado. Um casaco lhe faria bem, mas àquela altura da situação já não se importava com isso. Desceu as escadas de dois em dois degraus, uma hora quase que escorregava, mas se salvou ao segurar com sorte o corrimão. E que sorte. O ônibus passou rápido, e depois de pagar a passagem o garoto não resistiu de pegar os velhos fonezinhos e escutar qualquer bandinha para se destrair.
O caminho não era longo, nem era curto. Mas, independentemente disso, foi bastante o para refletir a grande merda que havia feito com a ex.
Como? Como pode dar queixa de Sofie na polícia? E daí se ela estava viciada em pó e roubava os pais? E daí se mesmo conseguindo controlar o uso da droga, às vezes, machucou seriamente uma garota que não queria dar-lhe a bolsa? E daí se largou a garota em um beco deserto, privando-lhe de ajuda? E daí se quando parara de precisar do pó tornara-se uma pequena traficante no bairro onde morava? E daí se ela queria superar a fase bebendo desinfetante ou arrancando pedaços da boca? E daí se estava planejando fugir de casa e levar consigo o dinheiro da hipotéca da casa? Isso não era nada. Ele a amava muito.Pelo menos a polícia não a havia pego. O sentimento que entrava pelos seus poros fazia com que Raul se arrependesse com todas as forças do feito. E mesmo assim, deixava o querendo usar essas mesmas forças para outra coisa, dá-las de presente à sua amada menininha, Sofie.
A campainha tocava insistentemente. Agnóstica, a garota atendeu. Parecia mais linda, como sempre parecia cada vez que se encontravam. A pele levemente rosada, os cabelos soltos castanhos, as roupas malucas e, clássico, as unhas dos pés pintadas de roxo. Ela, quando o viu, depois de fazer uma cara de surpresa indiscritível, falou:
- O que você quer aqui seu traidor ridículo?
- Eu quero ter você de volta. Você tem toda razão, eu sou o que cê tá falando aí, e sou tudo mais que você deve ter me xingado todos esses dias. Tô aqui admitindo um erro, que apesar de gigante, gostaria que fosse perdoado, por que eu estou aqui, realmente, de coração.
-Vai embora. Vai agora. Prive-me dessas cenas pouco convincentes, as quais você deve ter ensaiado horas em frente ao espelho.
-Não amor, tem nada a ver.
- “Amor”? Sério? Você é muito corajoso para vir até aqui e me chamar de amor... isso é blasfêmia. Vá logo se não quiser levar uma portada no nariz.
Raul entrou, rapidamente, na casa. Realmente, Sofie estava muitíssimo magoada com sua atitude. A garota que comia salada antes do rapaz chegar, pegou os talheres, um em cada mão. Garfo e faca. E continuou o “diálogo amigável”.
- Vai embora Raul. Ta vendo esses talheres aquis? Ambos são muito úteis. E eu vou te provar isso se você não sair daqui agora. Dou-lhe uma facada, enfio o garfo nem um olho seu e dou pro cachorro comer. Tá afim de pagar pra ver?
- Sofie, calma, não exagera. Vamos conversar.
- EXAGERAR? Eu? Foi você que me entregou pros Caras, você que me abandonou. Justamente quando eu mais precisava do seu apoio. Precisava de você. Eu não tinha ninguém. E agora muito menos. Sério, se a polícia não estivesse atrás de mim eu a chamava agora pra te botar pra fora daqui. Vaaaaaaaai.
- Você tava mudada cara. Foi pro seu bem. Ok, depois eu vi que foi uma atitude mal pensada e que fui mais do que ríspido com você. Você tem razão. Me fura se quiser. Mas eu não vou embora enquanto você não sentar e escutar o que eu tenho pra dizer. Depois disso eu sumo da sua vida. Prometo.
- Você tem 3minutos.
- Suficientes.
- Ótimo.
- Tá faltando sentar.
- Tudo bem, mas seu tempo ta passando.
- Sofie, eu fui o homem, se é que fui um homem, mais idiota do mundo com você. Admito isso com a pouca dignidade que me resta depois do que aconteceu. Mas eu me arrependo, e queria mais uma chance contigo. Todo mundo tem direito de errar. E eu sou réu primario, pow. Me perdoa. E entenda o que me levou a fazer o que fiz. Você estava estranha. Estava se acabando, literalmente. Não negue, você não se deu por essa mudança, e isso é natural. Te entregando eu pensei que fosse te ajudar. Essa sua sequência de decadência só estava te controlando mais, e você foi se entregando ao vício de forma completa. Não falo da cocaína, falo do vício de se estragar. De tentar esquecer a vida dura e procurar sensações de leveza e controle em qualquer coisa. Qualquer um. Roubar para correr o risco de ser pega. Arriscar para prova o tempero da vida. Buscar as emoções mais difíceis. Mas ok, isso não passou de uma bad trip. Apesar de ter me mostrado um traidor, estou aqui, para você, para o que você precisar. Eu vacilei, eu sei. Mas estou disposto a assumir as consequências, todas. E se uma delas for te perder, vai doer, mas eu vou ter que aguentar, se isso for te fazer bem. E talvez vá, por que ficar com um porco falso que nem eu não ajuda em nada né?...Sabe? Sinceramente, eu tenho medo. Todas esses dias e noites que se passaram eu temi e até chorei antes de dormir, pensando em você. Em te perder. Em você me esquecer. Isso dói, cara. Dói lembrar do seu cheiro que penetra minhas roupas e se instala na minha pele. Que gruda e me deixa sempre contigo. E mesmo que não, por que comprei o seu perfume e coloquei em todas as minhas coisas para ficar cheirando e te sentindo. Lembrar do seu cabelo detonado, que é muito foda. Das suas lentes de contato que você sempre perde. Da cordinha amarrada no dedo mínimo do pé esquerdo que você usa e não lembra o porque. Eu só queria você. Mas eu entendo se tiver que ir embora da sua vida. Só quero que você saiba quão especial é para mim, e como vai ser sempre lembrada por esse cara tão vacilão.
Sofie escrevia um bilhete, e depois de tê-lo, sem querer, molhado com uma lágrima, deu a Raul nas mãos.
- Agora vai embora Raul. Lê quando chegar em casa.
No ônibus, o garoto não pôde resistir:
Bilhete: Mas quando você vier não venha como você vem geralmente, entregado ao vazio, quem mais irá esperar por você como eu? Que mais menina irá te amar como eu? Volte, eu te perdoo, mas não ache que serei a mesma. Eu mudei, ganhei experiância, você é o mesmo e isso faz toda a diferença...
Aquela mistura de sentimentos dentro dele não era nada sublime, ou seja, tão sublime quanto proposital. Quanto bem-vinda. pensando nisso,dormio.
Logo mais à noite Raul acordou muito suado. Não poderia mais aguentar. Teria que fazer alguma coisa para dar fim àquela inquietação dentro do peito. E para voltar a respirar. Precisava agir ou não conseguiria mais olhar-se no espelho e ver o bom e velho Raul. Sempre veria o outro alguém, sem coração, que teimava em usá-lo como hospedeiro, desde quando desapontou tão fortemente aquela garota, cujos olhos não lhe saiam da memória, o que fazia companhia àquela sensação mórbida de solidão.
Amassou qualquer dinheiro no jeans escuro, calçou qualquer all star sujo e deixou o cabelo como sempre gostava, despenteado. Um casaco lhe faria bem, mas àquela altura da situação já não se importava com isso. Desceu as escadas de dois em dois degraus, uma hora quase que escorregava, mas se salvou ao segurar com sorte o corrimão. E que sorte. O ônibus passou rápido, e depois de pagar a passagem o garoto não resistiu de pegar os velhos fonezinhos e escutar qualquer bandinha para se destrair.
O caminho não era longo, nem era curto. Mas, independentemente disso, foi bastante o para refletir a grande merda que havia feito com a ex.
Como? Como pode dar queixa de Sofie na polícia? E daí se ela estava viciada em pó e roubava os pais? E daí se mesmo conseguindo controlar o uso da droga, às vezes, machucou seriamente uma garota que não queria dar-lhe a bolsa? E daí se largou a garota em um beco deserto, privando-lhe de ajuda? E daí se quando parara de precisar do pó tornara-se uma pequena traficante no bairro onde morava? E daí se ela queria superar a fase bebendo desinfetante ou arrancando pedaços da boca? E daí se estava planejando fugir de casa e levar consigo o dinheiro da hipotéca da casa? Isso não era nada. Ele a amava muito.Pelo menos a polícia não a havia pego. O sentimento que entrava pelos seus poros fazia com que Raul se arrependesse com todas as forças do feito. E mesmo assim, deixava o querendo usar essas mesmas forças para outra coisa, dá-las de presente à sua amada menininha, Sofie.
A campainha tocava insistentemente. Agnóstica, a garota atendeu. Parecia mais linda, como sempre parecia cada vez que se encontravam. A pele levemente rosada, os cabelos soltos castanhos, as roupas malucas e, clássico, as unhas dos pés pintadas de roxo. Ela, quando o viu, depois de fazer uma cara de surpresa indiscritível, falou:
- O que você quer aqui seu traidor ridículo?
- Eu quero ter você de volta. Você tem toda razão, eu sou o que cê tá falando aí, e sou tudo mais que você deve ter me xingado todos esses dias. Tô aqui admitindo um erro, que apesar de gigante, gostaria que fosse perdoado, por que eu estou aqui, realmente, de coração.
-Vai embora. Vai agora. Prive-me dessas cenas pouco convincentes, as quais você deve ter ensaiado horas em frente ao espelho.
-Não amor, tem nada a ver.
- “Amor”? Sério? Você é muito corajoso para vir até aqui e me chamar de amor... isso é blasfêmia. Vá logo se não quiser levar uma portada no nariz.
Raul entrou, rapidamente, na casa. Realmente, Sofie estava muitíssimo magoada com sua atitude. A garota que comia salada antes do rapaz chegar, pegou os talheres, um em cada mão. Garfo e faca. E continuou o “diálogo amigável”.
- Vai embora Raul. Ta vendo esses talheres aquis? Ambos são muito úteis. E eu vou te provar isso se você não sair daqui agora. Dou-lhe uma facada, enfio o garfo nem um olho seu e dou pro cachorro comer. Tá afim de pagar pra ver?
- Sofie, calma, não exagera. Vamos conversar.
- EXAGERAR? Eu? Foi você que me entregou pros Caras, você que me abandonou. Justamente quando eu mais precisava do seu apoio. Precisava de você. Eu não tinha ninguém. E agora muito menos. Sério, se a polícia não estivesse atrás de mim eu a chamava agora pra te botar pra fora daqui. Vaaaaaaaai.
- Você tava mudada cara. Foi pro seu bem. Ok, depois eu vi que foi uma atitude mal pensada e que fui mais do que ríspido com você. Você tem razão. Me fura se quiser. Mas eu não vou embora enquanto você não sentar e escutar o que eu tenho pra dizer. Depois disso eu sumo da sua vida. Prometo.
- Você tem 3minutos.
- Suficientes.
- Ótimo.
- Tá faltando sentar.
- Tudo bem, mas seu tempo ta passando.
- Sofie, eu fui o homem, se é que fui um homem, mais idiota do mundo com você. Admito isso com a pouca dignidade que me resta depois do que aconteceu. Mas eu me arrependo, e queria mais uma chance contigo. Todo mundo tem direito de errar. E eu sou réu primario, pow. Me perdoa. E entenda o que me levou a fazer o que fiz. Você estava estranha. Estava se acabando, literalmente. Não negue, você não se deu por essa mudança, e isso é natural. Te entregando eu pensei que fosse te ajudar. Essa sua sequência de decadência só estava te controlando mais, e você foi se entregando ao vício de forma completa. Não falo da cocaína, falo do vício de se estragar. De tentar esquecer a vida dura e procurar sensações de leveza e controle em qualquer coisa. Qualquer um. Roubar para correr o risco de ser pega. Arriscar para prova o tempero da vida. Buscar as emoções mais difíceis. Mas ok, isso não passou de uma bad trip. Apesar de ter me mostrado um traidor, estou aqui, para você, para o que você precisar. Eu vacilei, eu sei. Mas estou disposto a assumir as consequências, todas. E se uma delas for te perder, vai doer, mas eu vou ter que aguentar, se isso for te fazer bem. E talvez vá, por que ficar com um porco falso que nem eu não ajuda em nada né?...Sabe? Sinceramente, eu tenho medo. Todas esses dias e noites que se passaram eu temi e até chorei antes de dormir, pensando em você. Em te perder. Em você me esquecer. Isso dói, cara. Dói lembrar do seu cheiro que penetra minhas roupas e se instala na minha pele. Que gruda e me deixa sempre contigo. E mesmo que não, por que comprei o seu perfume e coloquei em todas as minhas coisas para ficar cheirando e te sentindo. Lembrar do seu cabelo detonado, que é muito foda. Das suas lentes de contato que você sempre perde. Da cordinha amarrada no dedo mínimo do pé esquerdo que você usa e não lembra o porque. Eu só queria você. Mas eu entendo se tiver que ir embora da sua vida. Só quero que você saiba quão especial é para mim, e como vai ser sempre lembrada por esse cara tão vacilão.
Sofie escrevia um bilhete, e depois de tê-lo, sem querer, molhado com uma lágrima, deu a Raul nas mãos.
- Agora vai embora Raul. Lê quando chegar em casa.
No ônibus, o garoto não pôde resistir:
Bilhete: Mas quando você vier não venha como você vem geralmente, entregado ao vazio, quem mais irá esperar por você como eu? Que mais menina irá te amar como eu? Volte, eu te perdoo, mas não ache que serei a mesma. Eu mudei, ganhei experiância, você é o mesmo e isso faz toda a diferença...


