monólogo.

domingo, março 22 6:40 AM postado por debs
Devo ser um cigarro para você. Você me fuma aos poucos, me traga len-ta-men-te... me apaga para terminar depois, eu sei, eu sinto. Sinto meu corpo queimar, às vezes, e sei que isso é causado por você. A minha própria fumaça me entontece. Quem me sentenciou essa sentença irrevogável? Quem me julgou merecedora desse sofrimento? Quem me sintonizou nessa rádio e me deixou nessa freqüência, sem pena? Estou penando a minha pena imutável. Enlouquecendo cada vez que sou acesa, mesmo que o meu fogo dure pouco tempo, é o suficiente para liberar todo o meu desejo por você, é o suficiente para me transformar, me fazer tão eu, tão completamente movida pelos instintos. Meus sentidos são liberados em suas essências e nomes, são fortes, astutos. Sinto o seu cheiro de longe, sinto o seu calor. Eu luto contra mim mesma para me manter longe de você, para não avançar em cima do seu corpo, para não prender-te na parede e segurar seu rosto delicadamente, olhar-te melhor... isso entregaria o meu amor. Os meus olhos nos teus entregaria o meu amor. Ó, que esforço faço todas as noites para não sonhar com você. Os sonhos são as realidades de quem não tem coragem para arriscar. Nos sonhos sentimos frio, medo, êxtase, prazer. Os sonhos são como a realidade de um mundo onde tudo é mais simples e mais fácil. Nos sonhos eu posso te amar e me declarar sem nenhuma vergonha. E se você me rejeitar, em outro sonho posso conseguir, nos sonhos eu posso lutar, e, quase sempre, acabo tendo o contato tão desejado com você. É por isso que é tão perigoso, é por isso que eu tento tanto evitar. Sempre que me vejo capaz de me aproximar crio esperanças mal-vindas em mim. Pura e doce ilusão. Um suspiro fugido escapa rapidamente pelos meus lábios semi-abertos. É a prova do meu esforço inútil para representar a minha coragem. Eu não tenho esse tipo de coisa perto de você. Até minhas pernas tremem, o ar some, desaparece. Eu suo frio, e tento fugir. Mas se eu sou realmente o seu cigarro como presumo ser, faça-me um favor, se puder. Não me apague, não hesite. Não deixe um pouco de mim para mais tarde, para depois. Fume-me de uma vez, de uma vez só, intensamente como eu sou. Talvez assim todos os prazeres possam se misturar e antes de você chegar ao filtro eu possa ao menos te sentir. Depois eu vou embora, espalhando-me no ar, como a fumaça branca que saiu de sua boca de uma vez. Desvanecerei satisfeita, antes de expirar.

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