contra a correnteza.

segunda-feira, junho 29 7:54 AM postado por debs
Solte o meu pescoço, amigo. Não vai adiantar nada. Não se mata um defunto.
Há um tempo eu deixei de me importar. Todos os pensamentos loucos e sentimentos excêntricos que passavam pelo núcleo, eu entendia bem. Nunca tive complicações ao me comunicar comigo. Mas, agora alguém me explica. Nada faz sentido.
O meu acordar, levantar, caminhar para o computador. Descer, comer, olhar no espelho e suspirar um suspiro de cansaço, deitar e me perder na multidão de pensamentos que inundam a minha cabeça de uma vez, dando medo, dúvida, dor, saudade... desejo. Por quê a gente não pode sair por aí voando? Nada faz sentido.
Eu me engano nas decisões. Os resultados não são mais certos como eu planejava. Eu sempre fui movida pelo raciocínio, nada de emoções. Você já sentiu o seu QI diminuir? Caramba, o meu decaiu muito.
Sinto-me presa dentro de mim. O lá fora não existe. É tudo coisa da minha cabeça. Ninguém existe de verdade. É só parte da minha imaginação. Na verdade eu devo ser apenas uma das mil personalidades de um louco que agora está internado por aí. Se é que no mundo real existe mesmo isso de internação, letras e conclusões.
Nesse caso, ele seria meu Deus. Nesse caso, eu faria parte da engrenagem dele. Nesse caso, eu deveria rezar para ele me transferir para outra história. É, ser outro personagem. Eu enjoei do meu papel. Eu enjoei de ser eu. Tudo bem, isso parece normal. Todos nós vivemos enjoando dos outros e por isso mudando de amizades, e também enjoando de nós, e, por isso, mudando de pensamentos, opiniões, gostos, etc. Eu já fiz isso demais. Já cheguei a fazer isso todo dia. Nascer todo dia diferente. Já mudei tudo. Habilidade, cabelo, ideias, preferências. Eu não deveria ter um só nome, já fui tanta gente. Devo ser a melhor atriz do mundo, pra ser tanta gente. Mas agora não dá mais. Esgotou-se o número de personagens disponíveis. Não tenho para onde fugir.
Dessa vez, eu enjoei da minha parte imutável. Que eu mude de vida, endereço, cor e nacionalidade, eu vou ser sempre a mesma pessoa, ter o mesmo passado, mesmo espírito e mesmo sangue. Mesma ficha. Mesma certidão de nascimento. Mesmo DNA.
Eu só queria entrar no mar e sumir.
Eu só queria não lembrar de mim, quando eu não estiver mais aqui. Onde quer que eu esteja, se eu estiver. Ir sumindo, sumindo, sumir.
Eu só queria não ser.
Mas a maré me traria de volta, ao menos o meu corpo.

1 Response to "contra a correnteza."

  1. sempreemim Says:

    Dá o teu passo!
    A arei vai estar entre teus dedos e uma pequena onda vai toca-los!
    O vento vai passar por todo o teu corpo.
    Tua cabeça vai ter tanta coisa que não vai ter nada!