Caran, pode acontecer de tudo, mas eu continuo tendo orgulho de mim. Posso fazer qualquer besteira, e morrer de me arrepender depois, nunca vou me culpar. Até por que eu sei que eu sou assim, que esse é meu jeito, e que, talvez, se eu tivesse mais 1000 chances faria tudo igual. Afinal, se eu não me aceitar como sou, quem mais fará isso? Pelo menos eu sei que eu sou corajosa. Que eu tento, arrisco. Que eu me jogo de braços abertos nas oportunidades, eu não gosto de perdê-las.
Atitude é uma coisa que poucos têm. E, na minha opinião, quem tem deveria ter orgulho disso. Mesmo que as conseqüências não sejam lá tão gratificantes, coragem é algo bem raro nos dias de hoje.
A minha recompensa, se eu não conquistar o que desejo arriscando, é o orgulho que minha atitude me dá.
Eu tentei, eu tentei ter você. Eu fui até aí e falei dos meus sentimentos, falei o que tinha pra falar, o que eu queria de você e tudo mais. Ok, você pode até não sentir o mesmo que eu, e isso pode até não ter alcançado o resultado desejado, mas admita, fui muito mulher pra fazer o que fiz. Fui muito madura, você não teria essa coragem. Não me arrependo, sabe? Valeu a pena. E a lágrima solitária que deixei cair ao ir embora foi só uma atitude efêmera de tristeza, um sinal de que sou humana e tenho desilusões também.
Como eu iria saber se não tivesse tentado?
Mas, sinceramente, eu não acho que isso tenha acabado. Apesar de ontem ter ido te ver com a ligeira impressão de que seria a última vez, sei que esse não foi o fim. Sei que te deixei com uma certa expressão diferente. Sei que as cortinas ainda não vão se fechar. Eu sei, mas não me pergunte como ou porque. Simplesmente sei, simplesmente sinto.
Eu juro, ontem o meu maior desejo era te beijar e não sentir nada. Te ver e não notar nenhuma mudança na sincronia das batidas do meu coração. Isso não aconteceu, mas confesso, também não foi como antes. Antes você me causava mais efeitos. Ontem eu até estava diferente, eu que sou tão loquaz fiquei até bastante calada, quieta, talvez me preparando para a atitude que iria tomar. Mas, mesmo assim, ontem eu fiquei mais sóbria de você, fiquei mais reservada e te dei vontade de mim. Admita...
Eu ainda te quero, ainda te gosto, ainda me encontro imaginando-nos juntos. Só que agora sei que o meu sentimento por você é algo fungível, algo que pode ser substituído por outra coisa de mesma espécie, qualidade, quantidade ou valor. Algo que está se gastando com o uso.
Acho que você está deixando de ser meu deus. E esta liturgia então está se esvaindo. Esse meu sentimento conversível, se transforma de pouco em pouco em um novo sentido. Por outras coisas, por outros alguéns.
Talvez você goste de se sentir no comando. Quem é que não gosta? Talvez você ache que vai me controlar, se não para sempre, por muito tempo ainda. Por isso estou te avisando que cê ta perdendo esse dom. E se gosta de mim aja rápido, enquanto ainda gosto de você. É, ainda estou sentada assistindo, mas o meu senso crítico está, cada vez mais, me induzindo a intervir.


