E em pensamentos eu venho me trancando desde a última vez que te vi e pude me libertar. Porque será que só sei ser livre quando estou com você? Porque será que só sei ser autêntica, viver sem ensaios, quando você está presente para assistir a minha improvisação? Será que você me enfeitiçou de alguma forma e eu só sei ser ao vivo quando você me olha? Seja o que for, você me prendeu. Agora eu sou só mais uma das que você limita. Não me limite. Não me tranque nas quatro paredes da sua presença... ou da sua imaginação. Odeio-te por não sentir nenhuma admiração por você. Odeio-te ainda mais por ouvir seus gritos que dizem que eu não estou contracenando bem. E a minha vontade é de cuspir na tua cara e ir embora como uma alforriada.
Porque inúmeros são os meus movimentos corporais, de várias formas eu sei me expressar. Eu não preciso de você pra dizer se estou indo bem ou não. Eu não preciso de você pra me julgar. Por isso, agora, dê-me as chaves para soltar essas correntes que me amarram e cuidam para que eu fique sempre sendo arrastada pelo teu ego. Já não suporto mais esse seu cheiro de orgulho, criei uma alergia de você.
E a cada dia esse gosto de humilhação que você me faz sentir na boca, aumenta. E a cada dia a minha vontade de explodir em sucesso cresce. Sou ilimitada. Sou intensa. E dane-se esse teu jeito tão teu de me ignorar.
Você é varias pessoas, você é várias lembranças de decepções sem fim, decepções sem ponto final, decepções sem vingança. Você é a minha vírgula e eu luto para te transformar em um ponto final. Nem que para isso eu precise acabar a minha tinta.
O seu cheiro de amaciante me entope o nariz, eu fico cheia de uma agonia inquieta. Eu quero soltar os cachorros para você. Você, que é todos os meus medos juntos num só pesadelo e que me doma com seu chicote incontrolável. Eu ainda vou te fazer engolir todos os elogios que você me fez.