Nunca deixe ficar tarde demais. Os dias estão passando tão rápido. As vontades ficando de lado... Cada dia vou me afundando mais no meu buraco, fugindo mais. Eu me escondo no meu próprio vazio, na escuridão da minha própria solidão.
Os dias estão passando tão rápido, e com a mesma velocidade vai embora a minha capacidade de comunicação. Eu não sei mais demonstrar sentimentos, desejos e esperanças. Tudo isso me faz virar um robô.
Há quanto tempo você é um robô? Que ri automaticamente, ou não ri de coisa alguma. Que diz lamentar e chorar por tudo, mas nada faz por nada. Que finge viver, mas encena a sua própria vida, a sua única vida. Quanto tempo você acha que vive um robô? Aliás, por quanto tempo você acha que funciona um robô?
De que te adianta ser um ótimo ator? Dramatizar todos os porquês, vangloriar cada decisão, e ir deixando pra depois e pra depois e pra depois o agora, pro depois que não há?
Pra que serve um robô? Pra facilitar.
Você não é obrigado a viver, nem a estar vivo se não quiser. Você pode ou não comer, falar, dormir. Mas criar a sua personalidade parece ser tão complicado que você prefere imitar alguma já existente. "É mais fácil ser alguém, é difícil ser a gente".
Vai vivendo assim, aliás, vai funcionando assim que você não vai pra frente.
Eu sempre fui julgada por não ser um robô, um rato de laboratório, um brinquedo de deus. Porém, acho que finalmente e infelizmente encontraram um jeito meu de fazer isso comigo, depois de tantas pesquisas. É questão de tempo a minha transformação. Vão me encaixar na fila, com a cabeça baixa, com a boca fechada. Tirar de mim o coração, trocar por um sistema operacional. Eu não vou ter um nome, terei um número. E quando se cansarem de mim vai ser fácil. Bastará me desligar.
Ah não, eu estou ficando igual a você.